Irlanda do Norte #Dia 2

E o dia começa com uma torta de cereja comprada no Tesco (1 pound) e aquecida no micro-ondas, com muitas expectativas e ombros à mostra para fazer jus ao sol que começava a raiar. O ônibus do tour veio nos pegar no hostel e quando pisei nele, surgiu um arrependimento. Estava LOTADO! Quase não conseguimos nos sentar juntas, se não fosse a boa vontade de uma senhora que ofereceu seu lugar e foi sentar-se na frente com o motorista (ou ela foi esperta, porque pegou a melhor vista possível).

O motorista era um velhinho simpático, que ficava falando o caminho todo, contando histórias e curiosidades sobre os locais pelos quais passamos (pena que o som era péssimo e não dava para entender quase nada do que ele dizia). Equipadas com máquinas lotadas de bateria (ou não – nunca confie na capacidade que o fabricante diz que a bateria da sua máquina possui) e comida para um batalhão (sanduíches de pão, cream cheese e salame, suco de laranja, maçãs, bolachas Oreo (s2) e muita água), começamos o tour!

Primeira parada, cerca de 30 minutos após deixar Belfast, foi o Carrickfergus Castle, localizado na cidade de mesmo nome, no condado de Antrim. Ele foi construído pelos anglo-normandos em 1.177 e é um dos castelos medievais mais bem preservados da Irlanda. Atualmente, um museu funciona lá dentro, mas não tivemos tempo de visitar, já que a parada era apenas fotográfica e funciona mais ou menos assim: você desce do ônibus e corre, filha, para poder tirar as fotos que quiser, tentando não deixar os milhares de turistas do seu e de outros ônibus as estragarem. Foi bem legal, o lugar é lindo e eu tirei fotos legais =)

E volta para o ônibus, passando por estradas no meio de florestas, com casinhas modestas, vacas, ovelhas, o mar aparecendo uma ou outra vez para dar as graças, batendo papo e comendo sanduíches.

Segunda parada, Carnlough Harbour ou, melhor dizendo, parada do almoço e banheiro, porque tinha um Spar (rede de supermercados de conveniência) ali e nenhuma outra atração que valesse a pena. A má notícia é que o sol tinha ido embora e a chuva tinha chegado, e eu comecei a sentir muita tontura, não sei se pela perspectiva de ter que atravessar a ponte do medo ou pela falta de comida decente. Compramos um salgadinho bem salgado para ver se a minha pressão voltava a subir =X

E volta para o ônibus, agora passando o tempo todo pela costa, com um visual incrível, o sol voltando a aparecer, a tontura diminuindo, a conversa continuando, o motorista ainda tentando contar os fatos sobre aquela localização.

Terceira parada, a famosa Carrick-a-Rede ou Rope Bridge, uma ponte de corda que possibilita a passagem até a ilha de Carrick-a-Rede (do gaélico). Ela possui 20 metros de comprimento e está erguida a 30 metros de altura do nível do mar. Atualmente, sua única função é turística, mas ela já foi muito importante para os pescadores da região, que a construíram nos anos 70 – em estado precário e EU NÃO SEI COMO ELES CONSEGUIAM ATRAVESSAR AQUILO com apenas um corrimão e um espaço ENORME entre as tábuas de madeira.

Ok, atualmente ela não é mais assim, é super segura, tem rede de proteção e tudo o mais, mas ela balança mesmo assim. E eu já desci do ônibus dizendo para a Tami “eu não vou atravessar essa budega, não!” e para mim mesma, pouco reparando na paisagem estonteante que estava ao redor, de tão nervosa que eu estava. E andamos por cerca de 20 minutos do ponto que o ônibus nos deixou até a fila para cruzar a ponte (5 pounds, obrigada), com funcionários dos dois lados, pois eles controlam a vez de quem vai e volta, já que só cabe uma fileira de pessoas por vez na ponte.

E cedo demais chegou a nossa vez. E eu desço as escadas de acesso à ponte já rezando (em voz alta, mesmo, sem me importar): “Jesus do Céu, por favor, me proteja e não me deixe cair aqui!”, a Tami na minha frente já rindo e eu piso na ponte e ela treme toda, mas vou indo, não olhado para lugar nenhum (muito menos para os meus pés), exceto para a frente, para o que ainda falta. E a Tami vira e tenta me dar a máquina dela, para eu bater uma foto. Eu falo: “Oi, posso tirar a foto com a minha máquina mesmo? Assim eu ainda fico com uma das mãos na ponte, ok?” o.O E tiro a foto e continuo a andar. Mas aí, a ponte balança muito mais! A causa? Crianças MALDITAS, que começam a pular atrás de mim. E eu começo a gritar, em português mesmo, porque o inglês ficou lá no fundo da consciência nesse momento: “PAREM DE BALANÇAR, PORRA! FILHOS DA PUTA! CARALHO, ESSA MERDA VAI CAIR!”. E choro, chegando branca do outro lado, com gente rindo da minha cara. E eu ainda tentei me explicar: “Poxa, eu tenho muito medo de altura, isso é muito difícil para mim!”. Eu nem sei se tenho tanto medo de altura assim. Meu medo é de pontes de cordas eu acho, mesmo pequena nunca gostei daquelas de parquinhos – pergunta pra Mamis. Ok, admito que perdi a linha. Ainda bem que só a Tami entendeu os meus palavrões =)

Mas, depois daquilo, tudo ficou mais legal. Tipo, passou o sufoco! E eu pude aproveitar a paisagem sufocante de tão linda (a mais linda que já vi desde que cheguei nesta ilha), o sol, o vento gostoso, as fotos maravilhosas, pensando na vida, na beira daqueles penhascos. Que momento! Na volta, tudo melhor. A Tami foi atrás de mim e “segurou” as pessoas atrás dela, para que eu pudesse atravessar a ponte sozinha. Fui meio correndo, só para garantir =)

E volta para o ônibus, continuando na costa, comendo bolachas porque eu mereço depois dessa provação, xingando as crianças sem consideração com as pessoas, já sentindo o cansaço do dia.

Quarta parada, Dunluce Castle. Ou melhor, ruínas do que um dia foi o Dunluce Castle. Ele foi construído no século 13 pelo rei do Ulster da época. O safado do vendedor do guia me disse que ninguém pode entrar lá, porque é perigoso – já que ele está localizado no topo de uma colina e está caindo aos pedaços. Mas descobri que é mentira, que bastam 5 pounds e você pode visitá-lo sim senhor. É, mas como a parada foi fotográfica, só deu para tirar meia dúzia de fotos e ficar um tempinho ali pensando em como o mundo é maluco, já que ali moravam pessoas de verdade e que nem imaginavam que um bando de turistas equipados com uns troços estranhos no pescoço parariam em frente as ruínas de seu império para se questionar tudo isso.

E volta para o ônibus, agora já acabada, comendo mais sanduíches, tirando um cochilo breve pois ainda temos a principal atração pela frente.

Quinta parada, Old Bushmill Distillery, a parada mais burra da história dos tours pelo condado de Antrim. Imagina, uma parada de 20 minutos, que não te permite visitar a distilaria, só a loja de souvenirs, enquanto esse tempo seria melhor aproveitado nas paisagens naturais, o que trouxe todo mundo até ali. Pois é. Só entramos para descobrir que aquela é destilaria com a licença para funcionar mais antiga do mundo. De resto, ficamos comendo um Kit Kat recém-comprado e sentindo aquele cheiro horrível do whiskey sendo fermentado =P

E volta para o ônibus, agora por favor, podemos ir para a Giants Causeway? Grata.

Sexta parada, Giants Causeway, finalmente, que é a região ainda no condado de Antrim formada por mais de 40 mil colunas de basalto, resultado de uma antiga erupção vulcânica. Essa é a explicação científica, mas ainda existe a explicação poética e folclórica, que diz que essa calçada foi construída pelo guerreiro irlandês Finn MacCool, como uma ponte para a Escócia. Ele, então, foi desafiado por um gigante escocês, Benandonner, que era muito maior que ele. A esposa de Finn, Oonagh, teve então uma ideia genial: ela o disfarçou como um bebê, o colocando em um berço. Quando Benandonner veio, Oonagh disse a ele que Finn estava fora, mas que deveria voltar em breve. Ela o mostrou então “o filho de Finn”. Quando Benandonner viu o tamanho do bebê, ele não teve mais vontade de ver o pai! Benandonner fugiu aterrorizado, destruindo a calçada atrás dele, para que o “enorme Finn MacCool ‘, não pudesse segui-lo.

Acreditem no que quiser, a visão é surpreendente. As colunas são hexagonais e PERFEITAS! Parecem realmente ter sido feitas à mão, ponto para a lenda do gigante. É muito divertido ficar ali, escalando, andando até a ponta da calçada, avistando a Escócia ali do lado (Oi, Edimburgo! Me espera, estou de olho em você!), ou só parando para pensar na vida novamente (Engraçado né? Paisagem bonita te faz pensar na vida.).

E após tudo isso, eu já estava meio tonta, cansada, com fome e coisas estranhas começaram a acontecer comigo. Primeiro, eu lá na ponta final da calçada, esperando a Tami tirar uma foto minha e me vem uma onda (que eu sinceramente achei que ia me derrubar) e me molha até os tornozelos. Depois, eu sentada esperando a Tami tirar outra foto, derrubo meus óculos em poça de água. Ainda ali, eu tentando descer das colunas, morrendo de inveja da Tami, solto a frase: “Sabe, você quer me humilhar… Vai descendo correndo na minha frente, segurando a bolsa, com a máquina em uma mão e… AHHHH!”. É, escorrego e a Tami me segura. E o final da frase fica “e me segurando com a outra”. Rimos disso até o final, andando por paisagens incríveis, para encerrar o dia.

E volta para o ônibus, agora falando de empregos alternativos (como em cruzeiros) e a Tami me fornecendo uma lista negra de agências de publicidade que eu nunca devo tentar trabalhar e ela não lembrando o nome da pior. Estou quase adormecendo quando ela me solta um alto e sonoro: “Young and Rubicam”! Um final engraçado para um dia inesquecível =)

A última parada foi o Crown Liquor Saloon, o pub mais famoso (e lindo) de Belfast. Ele é super antigo e é um exemplo de arquitetura e decoração Vitoriana. Possui lindos vitrais e trabalhos em madeira e você fica perdido olhando para tudo aquilo, bebendo o seu pint (Belfast Ale, em homenagem à cidade).

Ainda tentamos jantar, mas aqui não é Dublin mesmo, então foi impossível achar um restaurante ou mercado aberto às 22h e tivemos que ir comer no Victoria Square, na Pizza Hut, lasanha para mim e massa para a Tami. Ainda ali, decidimos mudar os planos dos últimos dois dias (sensata decisão): faríamos Belfast no sábado e Derry no domingo, já que a primeira exigiria muito mais tempo, que não teríamos no último dia. Planos feitos, bolsas arrumadas para o dia seguinte, hora de dormir. Sem nem sonhar, de tanto cansaço!

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